Equalis veterinaria

Bases Técnicas e Modalidades Ecocardiográficas

Autor: Afonso Reis

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Realização do exame

Para a realização do exame o transdutor deve estar em contato com o tórax do cão, entre o quarto e sexto espaço intercostal, sendo o exame realizado em decúbitos lateral esquerdo e lateral direito. Nos cães a tricotomia deve ser feita do lado esquerdo e direito, para diminuir os efeitos do ar na transmissão das ondas de ultrassom. Do lado esquerdo, a tricotomia deve ser realizada desde o quarto espaço intercostal até a última costela, e no lado direito a tricotomia é feita do quarto até o sexto espaço intercostal. Cães que apresentem pelagem mais fina a tricotomia pode não ser necessária, obtendo-se apenas com a utilização de gel e álcool que ajudam a aumentar o contato do transdutor com a pele do cão.

Muitos ecocardiografistas possuem uma mesa especial com furos no centro ou recortes nos bordos da mesa, que permitem um melhor acesso, pois o transdutor pode ser posicionado por baixo da mesa. Este método permite a obtenção de imagens de melhor qualidade, pois aumenta o contato do coração com a parede do tórax, afastando assim o pulmão da janela ecocardiográfica e diminuindo a interferência deste.

Os transdutores mais indicados para a realização do exame ecocardiográfico são os transdutores setoriais, pois as janelas ecocardiográficas estão sempre limitadas pelas costelas e estes transdutores permitem o acesso através de um pequeno espaço, pois originam um feixe de ultrassom em forma de cunha, que se espalha pela cavidade torácica.

A tranquilização para a realização de exames de diagnóstico por imagem é necessária, em algumas ocasiões, pois os animais podem não colaborar para a realização do exame. Sendo assim, é importante o conhecimento das propriedades dos fármacos anestésicos e sedativos, evitando alterações iatrogênicas que possam interferir ou impedir a interpretação do exame realizado.

Modalidades e recursos da ecocardiografia

            O exame ecocardiográfico na medicina veterinária rotineiramente utiliza as modalidades ecocardiográficas de modo-M e modo-B, além de recursos como Doppler contínuo e pulsado. Outros recursos ecocardiográficos que também podem ser utilizados são o Doppler tecidual, que permite uma análise do movimento realizado pelo miocárdio, e o Speckle-Tracking, que fornece informações sobre a dinâmica segmentar do ventrículo esquerdo (VE).

O modo-B é o estudo do coração em duas dimensões. É melhor para avaliar a morfologia geral do coração, padrões de movimento e tamanho e orientação de estruturas. Porém, o modo-B é limitado em resolução para estruturas de pequenas dimensões e em animais nos quais a frequência cardíaca (FC) é muito alta ou estruturas que se movem rapidamente, dificultando assim suas medições e tornando-as imprecisas.

O modo-M apresenta uma melhor taxa de amostragem de imagens, permitindo a formação quase contínua da imagem, conferindo maior precisão nas imagens formadas de estruturas que se movem rapidamente. A sua resolução entre diferentes estruturas também é superior quando se comparada ao modo-B, tornando assim as medições realizadas nesse modo mais fáceis e exatas. A maior dificuldade encontrada no modo-M é alinhar corretamente o feixe de ultrassom, o que muitas das vezes pode dificultar a obtenção da imagem necessária.

O recurso Doppler avalia o fluxo sanguíneo através das valvas e dos vasos. A direção e a velocidade do fluxo sanguíneo são traduzidas graficamente (Doppler pulsado e contínuo) e/ou em escala de cores (Doppler colorido).

O Doppler contínuo utiliza um feixe contínuo de ultrassom, que apresenta a variação de velocidade de todos os elementos móveis atravessados pelo feixe, gerando dificuldade na interpretação do sinal. Porém, permite a realização de medidas de velocidades muito maiores quando comparado ao Doppler pulsado.

O Doppler pulsado utiliza pulsos de ultrassom, coletando informações de velocidade e direção do fluxo sanguíneo de uma área específica (volume de amostra). Detecta velocidades de fluxo menores que o Doppler contínuo.

O Doppler colorido apresenta um mapeamento de fluxo em cores sobreposto a imagem em modo-B, sendo que o fluxo que se aproxima do transdutor aparece em vermelho, pois tem um aumento na frequência de eco, e o fluxo que se distancia do transdutor aparece em azul, pois tem uma diminuição na frequência de eco. Quando existe um fluxo turbulento apresenta-se como um mosaico de cores, uma mistura de verdes e amarelos.

O Doppler tecidual se assemelha muito com o recurso Doppler convencional, porém, ao invés de medir a velocidade do fluxo sanguíneo dentro do coração e vasos, este método permite medir velocidades dos tecidos que também se movimentam, como o miocárdio, por exemplo. A diferença do Doppler tecidual para o convencional são os filtros utilizados, pois no Doppler convencional registra-se velocidades muito mais altas que as velocidades registradas com o movimento do miocárdio, que produz sinais com amplitudes cem vezes maiores que o sangue. Dessa forma, para realizar o exame com o Doppler tecidual elimina-se determinados filtros utilizados no Doppler convencional, permitindo assim registrar as menores velocidades do movimento do miocárdio.

O VE apresenta disposição helicoidal e laminar das fibras do miocárdio, originando uma complexa deformação sistólica. Com isso, a ecocardiografia convencional não consegue analisar toda a complexidade da contração ventricular devido a essa disposição das fibras do miocárdio e avalia apenas um plano da contração ventricular. Já o Speckle tracking consiste na captura e rastreamento de pontos do ECO bidimensional ao longo do ciclo cardíaco, gerando vetores de movimento e curvas de deformação (strain rate e strain), fornecendo informações muito mais precisas sobre a função do VE.

[/vc_column_text][vc_column_text]Figura 1. Fotomicrografia de citologia cutânea demonstrando inúmeras leveduras de Malassezia sp. de cão com dermatite atópica associada à malasseziose. Aumento 100X[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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