Equalis veterinaria

A Importância da Interpretação Adequada da Densidade Urinária de Cães e Gatos

Autor: Andréa Alves

 

Nefrologia e Urologia

 

A urinálise é uma ferramenta indispensável para o diagnóstico de doenças do trato urinário e também sinaliza alterações oriundas de doenças em outros sistemas. Dentre os parâmetros avaliados na urinálise, destaca-se a densidade urinária (DU) ou gravidade específica da urina (GEU), mensurada pelo refratômetro (Figura -1). A DU permite a avaliação da função renal (FR), levando em consideração o volume de água excretado pelos rins a partir da mensuração da concentração de solutos diluídos ou concentrados na urina (Figura -2). Dessa forma, a análise da DU permite inferir o estado de hidratação do paciente.

O valor da DU auxilia na interpretação da presença solutos como glicose, bilirrubina e proteínas no exame químico da urinálise. A presença desses elementos pode interferir superestimando a DU não necessariamente elevada. Valores baixos de DU com baixa quantificação de solutos indica que a perda urinária é relevante.

É importante destacar que não existe um intervalo de normalidade para a DU para cães e gatos, o valor deve ser interpretado como sendo apropriado ou inapropriado de acordo com o grau de hidratação do paciente doente ou saudável. A DU em cães pode variar de 1,001 a 1,075 e em gatos de 1,001 a 1,085. Vale ressaltar que felinos apresentam um maior poder de concentração urinária comparado aos cães, pois apresentam alças de Henle mais alongadas, chegando a regiões de maior profundidade na medular renal, o que acarreta em um mecanismo de contracorrente mais efetivo.

Os rins funcionais têm a capacidade de concentrar ou diluir a urina, dependendo se o paciente está normohidratado, hiperidratado ou desidratado. A DU é classificada em hiperestenúria, DU moderadamente concentrada, isostenúria e hipostenúria.

Animais com bom funcionamento renal produzem a primeira urina do dia mais concentrada, o que acarreta em DU elevada denominada hiperestenúria (cães com DU superior a 1,030 e gatos DU superior a 1,035). Pacientes desidratados com FR normal e aqueles com azotemia de origem pré-renal têm a urina hiperestenúrica.

A urina pode estar moderadamente concentrada (cães com DU entre 1,016 a 1,029 e gatos com DU entre 1,016 a 1,034). Esse intervalo de DU não tem uma nomenclatura específica, sendo verificada em pacientes normohidratados ao longo do dia; nos pacientes normohidratados que não concentram a urina, como na situação de diabete insípido parcial; nos pacientes desidratados com DU inapropriadamente diluída por perda da FR.

A isostenúria em cães e gatos compreende o intervalo da DU entre 1,008 a 1,015, similar ao do ultrafiltrado glomerular ou filtrado glomerular. Em normohidratação, ocasionalmente a isostenúria pode ser encontrada em animais saudáveis; na desidratação com ou sem azotemia a urina pode estar inapropriadamente diluída na perda da FR. Os pacientes portadores de Injúria Renal Aguda (IRA) e DRC em estágios 2, 3 e 4 em situação de desidratação frequentemente apresentam isostenúria. Caso tais pacientes não tenham isostenúria, é imprescindível avaliar quanto a presença de solutos no exame físico que podem superestimar a DU; outra exceção seria o felino, portador dessas condições patológicas, não apresentar isostenúria pela característica de maior poder de concentração urinária.

Os pacientes portadores de doenças polidípsicas e poliúricas, sobretudo endocrinopatias, muitas vezes apresentam urina apropriadamente diluída, ou seja, hipostenúria onde a DU está entre 1,010 e 1,007.

Em pacientes hiperidratados a urina pode estar apropriadamente diluída indicando que a FR está normal; possibilidade de endocrinopatia poliúrica e polidípsica, sendo importante investigação adequada.

Figura -1: Mensuração da   DU  pelo refratômetro.

Figura -2:  Urina   em   diferentes   concentrações:   mais diluída a mais concentrada.

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