A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungo dimórfico do complexo Sporothrix schenckii que acomete cães e gatos, além do homem. As principais espécies de importância no Brasil são Sporothrix schenckii sensu stricto, S. brasiliensis, S. globosa e S. luriei.
O fungo é encontrado disposto no solo, tronco e raízes de árvores e durante muitos anos, foi responsável por causar lesões cutâneas em humanos e animais que se machucavam acidentalmente, inoculando o fungo na pele. O hábito natural de gatos afiarem as unhas e cavar o solo para enterrar seus dejetos facilitou o contato dos felinos com o agente e a auto-inoculação. Existindo uma população importante de felinos semi-domiciliados no país, houve uma disseminação do fungo entre eles e hoje é uma epizootia reconhecida em diferentes estados brasileiros. A proximidade natural de felinos com o homem, seus hábitos de arranhadura e a carga fúngica elevada nas lesões tornaram os gatos, quando infectados, potenciais veiculadores do fungo.
Com a doença disseminada entre os felinos em algumas regiões do país, o número de cães com diagnóstico de esporotricose também vem aumentando, o que preocupa a classe médica veterinária pela variabilidade de sinais clínicos e diagnóstico desafiador nesta espécie. O relato das infecções em cães normalmente está associado ao contato traumático com felinos infectados.
Em cães, a doença assume, em geral, uma evolução mais benigna. As lesões cutâneas iniciam-se como pápulas, nódulos ou bolhas que se rompem e que drenam conteúdo serosanguinolento. Podem evoluir para lesões nodo-ulcerativas, exsudativas e crostosas mais localizadas, principalmente no focinho e face (Figura 1).
Sinais Figura 1. A Lesões nodo-ulcerativas em face dorsal do pavilhão auricular direto de cão com esporotricose. B Úlcera em plano nasal de cão com esporotricose.clínicos
Além disso, o espelho nasal pode alterar a conformação anatômica, sem ulcerar, tornando-se tumefeito e liso superficialmente (Figura 2).
Figura 2. A e B. Espelhos nasais de cães com esporotricose demonstrando alterações anatômicas, eritema e tumefação.
Figura 2. A e B. Espelhos nasais de cães com esporotricose demonstrando alterações anatômicas, eritema e tumefação.
Figura 3. A. Múltiplas ulcerações faciais com formação de crostas hemáticas e perda importante de tecido do espelho nasal de cão com esporotricose. B. Lesões ulcerativas difusas em membros anterior e posterior de cão com esporotricose.
Esses padrões dermatológicos podem se repetir em outras doenças cutâneas, aumentando a lista de diagnóstico diferenciais como demodiciose, leishmaniose, doenças auto-imunes e neoplasias.
A evolução da doença pode se comportar de maneira distinta aos felinos. Cães com esporotricose podem ter lesões que não progridem ou que não se disseminam por muitos meses, o que não se costuma ver nos gatos. Outra diferença importante é a falta de contágio dos contactantes humanos ou animais, o que pode ser justificada pela carga fúngica escassa e a falta de inoculação pelos cães infectados.
Diagnóstico e tratamento
O exame citológico das secreções obtidas de lesões primárias pode ser uma opção diagnóstica, mas a quantidade de levedura é reduzida, diminuindo a sensibilidade do teste.
Dessa forma, o cultivo micológico das secreções ou fragmentos das lesões é o teste de eleição para o diagnóstico da esporotricose, uma vez que possui alta sensibilidade e é o único método de diagnóstico que permite a identificação da espécie envolvida. Uma desvantagem em relação aos outros métodos é que o crescimento da colônia pode demorar, retardando o diagnóstico da doença.
Nos casos em que existe a suspeita de esporotricose e as leveduras não foram visualizadas em exame citológico, o médico veterinário poderá retirar fragmentos das lesões através de biópsia cutânea e encaminhar para avaliação histopatológica. A coloração tradicional de hematoxilina-eosina pode ser suficiente para o diagnóstico, porém colorações especiais como ácido periódico de Schiff evidenciam as leveduras e facilitam a identificação.
A droga de eleição para o tratamento da esporotricose é o itraconazol. Em cães a dose é 10mg/Kg a cada 24h.
Em geral, é recomendado que o tratamento seja mantido por pelo menos quatro semanas após remissão clínica da doença.
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